Do sofrimento

Publicado: 27/03/2008 em Coisas da Vida, Humanos

Sofrer não deixa de ser uma maneira de sentir-se generoso, porque somente quando sofre o Homem é capaz de se soltar de si e mirar o outro.

Sofre-se, sempre, pelo o outro, para o outro, por causa do outro.

São muitos os miseráveis que escolhem sofrer para provar que amam. Sem saber eles estão dizendo quando choram piedade:

_ Olha, me desprendi de mim por você! Me abandonei por ti! Já não sou nada, além de um monte de lixo…

Ao contrário, existem os que sofrem porque não conseguem amar, nem abandonar o outro [mãe, pai, concha do mar, irmão, vidro vazio, amigo da onça, marido, esposa, rebentos, trabalho, isqueiros]. Quando isso acontece, os sofredores ausentam-se de si para que o outro viva em seu vazio, mesmo que seja sob forma de raiva, ódio, ou qualquer sentimento que valha.

São tantos os que usam o sofrimento como salmoura para suas culpas ancestrais!! Como se a palidez de mármore fosse torná-los dignos e merecedores do reino dos céus: a aprovação alheia.

Sofrer é uma escolha, como outra qualquer. O que todos queremos é amenizar a dor do tombo, a dor do absurdo que é existir e saber que as únicas coisas que existem realmente são aquelas que não podemos explicar.

Há os que bordam azuis, escrevem poemas, constroem pontes, ensinam o alfabeto, cantam tons secretos, trançam palhas e cabelos, plantam açucenas numa manhã de abril. E há os que sofrem.

A existência acontece naquilo que criamos. Daí, se não conseguimos construir pontes ou plantar açucenas, sofremos! Sofrer é, em última – ou primeira, quem pode saber?! – instância fazer a manutenção de uma existência que já não consegue criar a própria existência.

O sofrimento é como uma capa de chuva: usamos toda vez que o tempo turva apesar de saber que ficaremos ensopados do mesmo jeito.

Dor, desespero, desamparo, medo. Quem nunca foi tragado por essas emoções que se interne no primeiro manicômio! Quem alimenta essas donas dia e noite com rações super-poderosas do tipo “eu preciso que você me ame e preciso que você precise de mim” que corra para um divã mais próximo, porque como bem disse o poeta Drummond: a dor é inevitável, mas o sofrimento opcional.

E você, sofre por quê?

[Mônica Montone, em seu Blog]

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