O mundo é um enigma. Mas nós nos acostumamos a esse enigma quando crescemos. Até que ao final não nos acontece mais absolutamente nada enigmático. O mundo torna-se constante e previsível. E precisamos refletir profundamente para destituir o mundo de sua aparente compreensibilidade. Precisamos nos aprofundar intensamente em nós mesmos se quisermos vivenciar o mundo como mistério. Não é engraçado?
O único e verdadeiro mistério é aquele que vemos. Mas é o único que não é mencionado. Isso diz respeito a todas as pessoas. Mas não é tema de conversa. Nada é tão obscuro quanto o que é cristalino. Nada é tão oculto quanto o que vivemos em cada um dos nossos dias.
Aqui despertamos num globo terrestre no Universo. Num globo flutuante. Uma esfera mágica. Com lagos, flores e montanhas. E uma pitada de vida em todas as formas e tamanhos. Aqui a matéria espalha-se pelo campo. Aqui ela desponta do solo entre pedras e árvores. Aqui ela fervilha em rios e lagos. Aqui ela tremula no ar entre o céu e a terra. E mais ainda, a matéria neste misterioso planeta é consciente de si mesma.
E, apesar de tudo, depois é assim… Nos acostumamos a tudo o que está à nossa volta e agimos como se tivesse que ser assim. Consideramos a vida neste planeta a forma mais racional de existência. Talvez ainda consideremos os dinossauros algo extraordinário apenas porque eles não existem mais.
O mundo vira um hábito. Tudo é inflacionado. Se começar a acontecer um milagre após o outro, ao final só poderemos ficar indiferentes. Até que chega o dia em que simplesmente não vemos mais que existe um mundo.
Uma coisa só pode parecer enigmática se contrastada com nossas expectativas. Somente nos surpreendemos ainda quando a longa série de nossas expectativas é quebrada. O mundo precisa dar uma guinada. E nós precisamos viver algo “sobrenatural” para sentir na própria pele que existimos.
[Monique Antunes]