Juventude

Publicado: 21/11/2007 em Coisas da Vida, Vivendo e Aprendendo

Agora que já estou bem velhinha vou aproveitar para fazer tudo aquilo que sempre quis!

Vou aproveitar este tempo que me resta e fazer tudo o que sempre tive vontade. Dedicarei minha vida à tudo o que mais amo. Passarei a maior parte do meu tempo escrevendo, pintando e costurando, sem culpa! Também poderei fazer aquela faculdade que tanto sonhei e me aprofundar em todos os estudos que nunca se encaixariam nesse capitalismo selvagem.

Terei tempo suficiente para fazer ginástica, plantar flores, cuidar dos meus bichinhos e desenvolver todas as habilidades que aqueles tempos tão corridos me privaram.

As rugas já fincaram seu lugar cativo em minha pele, não tenho mais para onde fugir. Não dá mais pra esconder, agora sou livre e posso ir a todos os lugares sem me preocupar, sem me sentir julgada… afinal, quem liga para uma velha cheia de rugas?

Quando jovem, eu vivia como se fosse viver para sempre! Não parava para pensar na fragilidade da vida. O tempo para mim era sempre muito farto e abundante, eu nem o via passar. Como mortal cheia de medos, aterrorizava-me de tudo, mas desejava tudo como se fosse imortal.

Queria chegar aos cinqüenta para refugiar-me na natureza e aos sessenta desejava estar livre dos encargos cotidianos… Projetava minha realização pessoal para um tempo muito remoto.

Naquele ilusório presente o importante era ganhar muito dinheiro, ser uma profissional bem-sucedida e esbanjar status. Passei anos da minha vida correndo atrás do vento que me trouxe até aqui.

De fato estou livre de todas as maquiagens mentais, fardos e cabrestos da vida. Finalmente cheguei aonde tanto queria! Posso ver claramente como tudo nesta vida é vaidade e aflição de espírito. Já tenho sabedoria suficiente para não levá-la tão à sério. Mas agora é tarde… não tenho saúde.

* Envergonho-me de ter reservado para mim apenas as sobras da vida e destinar à meditação esta idade que já não serve para nada. Tarde começo a viver… justo agora que é hora de partir. *

Mais do que nunca sinto o cheiro da morte a me sondar e ele me enche de encanto pela vida. Bebo cada dia até a última gota, rio e choro como uma criança, canto alto e falo “bom dia” para todos na rua.

Não tenho nada a perder.

[Monique Antunes]

comentários
  1. Weird disse:

    Genial… mais uma vez Monique Antunes nos fazendo refletir sobre a vida e como tudo é tão mascarado e o que pensamos ser é apenas superficial.

    Abraços! 😉

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